Naquele círculo relvado
Naquele jardim central
Foram deixados sapatos
Diferentes uns dos outros
Mas todos brancos como a cal.
E àquele jardim chegou
No início da noite um menino
Para vir escutar as palavras
As vozes, os cantos, os ditos
Que ali se tinham reunido,
Caminhando pela cidade
Um dos chinelos perdera
Vinha às costas do pai,
Outra metade caminhando,
E chegou naquela hora.
Quando tudo terminou
E as palavras pararam
Havia que voltar a casa
Fazer o caminho todo
Só com um chinelo calçado.
E tantos sapatos ali
Naquele círculo relvado
Será que se eles levasse uns
Só para voltar a casa
Se consideraria roubado?
Do meio dos arbustos saiu
O andarilho-mor
E lhe disse “Leva
Daqui o par de sapatos
Que te servirem melhor!”
A medo tirou um par
Calçou-os e pôs-se a caminho
Mas naquele círculo relvado
Deixou o seu chinelo azul
O seu nome ficou gravado.
Chegou a casa, dormiu
E o menino ao sonhar
Ouviu aquele refrão
“A poesia é para comer,
As palavras são para usar!”